07/06/2010

Avó

"Aristóteles, visita da casa de minha avó,
não acharia esquisita esta forma de estar só
esta maneira de ser contra a maneira do tempo
esta maneira de ver o que o tempo tem por dentro.

Aristóteles diria entre dois goles de chá
que o melhor ainda será deixar o tempo onde está
pô-lo de perto no tema e de parte na poesia
para manter o poema dentro da ordem do dia.

Aristóteles, visita da casa da minha avó,
não acharia esquisita esta forma de estar só.
Ele sabia que o poeta depois de tudo inventado
depois de tudo previsto de tudo vistoriado
teria de fazer isto para não continuar
com que já estava acabado teria de ser presente
não futuro antecipado não profeta não vidente
mas aço bem temperado cachorro ferrando o dente
na canela do passado adaga cravando a ponta
no coração do sentido palavra osso furando
pele de cão perseguido.

Aristóteles, visita da casa da minha avó, não acharia esquisita
esta forma de estar só esta maneira de riso
que é a mais original forma de se ter juízo
e ser poeta actual.

Aristóteles, visita da casa da minha avó,
também diria antes só do que mal acompanhado
antes morto emparedado em muro de pedra e cal
aonde não entre bicho que não seja essencial
à evasão da palavra deste silêncio mortal"

José Carlos Ary dos Santos, 1965

Para alguém que se foi para SEMPRE...
Mas que SEMPRE ficará... que SEMPRE estará no meu coração.
Foram poucas as vezes que te disse "Adoro-te Avó" mas em tempo algum foi diferente este sentimento que agora deixa esta enorme saudade.
Não desejo "matar" esta saudade... desejo sim saber lidar com a tua ausência.
Uma Mãe para a vida.

Até sempre... Até um dia... Avó

21/11/1925 - 30/05/2010