27/10/2017

"Um Sonho Perdido, uma Realidade Diferente..."

"- Quando se tenta amar o impossível, é muito difícil perceber o que se sente.
- Eu acho que é possível. Essa é que é a grande diferença entre nós. Eu continuo a acreditar no nosso amor e a prova é que…
- A prova é que temos passado bem sem ele.
- Não… nós temos passado mal. Ou vais dizer o quê? Que a tua vida com ou sem mim é igual? Sabes o que é que eu acho? Que todo este tempo que estivemos separados, fez com que o nosso amor se tornasse mais forte.
- É uma frase muito bonita… E já foi dita por tanta gente, que se banalizou… pouco vale.
- O amor é uma verdade da qual não podemos fugir. Eu não questiono o amor que sinto por ti. Eu só não percebo porque é que a vida teima em manter-nos separados. E o que é que tu queres amor ou segurança?
- O amor é uma coisa. Mas toda a gente acaba por fantasiar com outra. E além disso se tu não és feliz numa relação, é porque essa relação não te serve. E eu nunca senti contigo, que as coisas podiam funcionar. Nunca me senti feliz. Nunca.
- Nós já tivemos momentos felizes… momentos únicos! Sabes qual é a verdade? A verdade é que nós sentimos amor um pelo outro, e tu sabes disso melhor do que eu.
- Eu não sei se tu me amas, ou amas a ideia que tu fazes do amor.
- Agora és tu que estás a dizer frases feitas…
- Sim, mas eu não fantasio os meus sentimentos… Eu só me defendo do que sinto.
- Acredita em mim. Confia em mim. Eu quero ficar contigo.
- Eu não vou voltar a criar expectativas.
- Eu não te vou enganar mais… Eu vou dar tudo o que tu mereces.

Este diálogo é uma fantasia minha. A maneira que eu gostava que tivesse terminado a nossa história. Contigo a dizer-me que não me ias enganar mais e que irias dar-me tudo aquilo que eu merecia. Mas, a vida real é bem diferente das fantasias e da ficção. Não te iludas, pois a nossa vida não é uma novela, onde tudo parece maravilhoso, os dois apaixonados ficam juntos e tudo acaba por dar certo. Esse foi o meu erro. Acreditar no meu sonho, apesar de tudo o que apontava para o contrário. “O teu problema é que és demasiado romântico”, dizia-me a minha psicóloga. Agora de romântica a comédia da minha vida não tem nada! Depois de tudo que fiz por ti, e de me teres feito o que fizeste só me sobra o “Amo-te”, mas não quero mais continuar. É verdade que nunca imaginei que este dia chegasse, mas é igualmente verdade que a vida é complexa e nem sempre o que sonhamos ou queremos muito, acontece...
O amor não é apenas um sentimento, é também uma atitude. Eu tive todas as que pôde contigo, se não as soubeste ou quiseste retribuir, aí já é uma opção tua. Só acho injusto e é isto que me revolta é ter que estar triste, e vivendo da forma que vivo, só porque te amei de verdade. É o que eu digo: às vezes apaixonarmo-nos é um crime, e por esse crime vamos pagar na pena máxima.
- Ai mas porque é que tem que ser tudo assim? Tão definido? De um lado o que está certo, do outro o que está errado. Porque muitas vezes, nós até podemos pensar que estamos a decidir o que está certo, e estamos exactamente a fazer o oposto, estamos a decidir o que é errado!
- Mas o que é que tu queres que eu te diga? Nós vivemos numa sociedade que não aceita indefinições…
- Não… nós vivemos é num mundo onde toda a gente é insegura, ninguém sabe o que quer, e acabamos por fazer todos, mas todos, aquilo que esperam de nós…
- E é sempre chato não corresponder às expectativas…
- Sabes aqueles dias muito estúpidos, em que acordas e não sabes o que é que hás-de vestir, e tens a roupa toda à tua volta, experimentas uma coisa, experimentas outra, e não te consegues decidir por nada, até que, pronto olhas para o espelho, olhas para ti vestido com aquilo que tu decidiste vestir e continuas a sentir-te mal com a tua decisão, inseguro… é mais ou menos assim que eu me sinto.
- Pois mas tu só tens um corpo e um conjunto de roupa… Tens que tomar uma opção…

“A solução é não negar os sentimentos, assim não há dor…” ouvi uma vez uma amiga dizer-mo. Eu acho que a solução é não amar. Aí sim, temos a certeza de que não iremos sofrer. E sim, de facto esta seria a melhor solução. Mas eu acho que é bom amar, nada é perfeito temos que aproveitar as coisas positivas que passamos, os bons momentos... porque como em tudo na vida há coisas boas e más, e nós até temos consciência muitas vezes que aquela pessoa não nos faz bem e continuamos a tentar. Cabe à pessoa sair daquilo que não lhe faz bem, porque o verdadeiro amor deverá dar-nos mais coisas boas do que más. Quanto mais negarmos aquilo que sentimos mais nos afastamos da verdade e não nos libertaremos desse sentimento chamado sofrimento, é algo mental...
Quando se ama, tem-se geralmente a ideia que se sabe o que é melhor para a pessoa amada. O sentimento de amor que deveria ser reciproco não acontece devido ao facto de uma das parte negar o sentimento. Pois essa negação só acontece por um motivo: Medo! Medo de incertezas quanto ao sentimento que sente ou Medo de não arriscar por diversas razões. Partindo da origem dessa frase ser verdadeira ainda resta uma solução: essa pessoa não esta a negar os sentimentos apenas não sente Amor.
As coisas que nos assustam são em maior número do que aquelas que efectivamente nos fazem mal. Tal como a maioria das vezes nos afligimos mais pelas aparências do que pelos factos reais.
As emoções são o mais difícil de controlar, ou de dissimular, e se não há verdades absolutas também não há amores absolutos. Perdi o meu sonho, aquilo em que acreditei com tanta força ao longo destes anos todos, perdi anos de empenho, dedicação e luta, para acabar sozinho e com medo de que o futuro não me dê mais nada…

Até sempre,
meu sonho perdido"

17/10/2017

"Os milagres acontecem devagar..."

"Como vivemos o amor depois dos 40 Anos? O que é que ainda estamos dispostos a fazer, até que ponto queremos ou conseguimos ceder tempo e espaço para construir uma relação? O que é que ainda conseguimos mudar em nós e o que podemos esperar que o outro mude?
Sejamos francos: depois dos 40 já vivemos metade da nossa vida. Criámos hábitos, vícios, manias. Sabemos do que gostamos e do que não gostamos em nós e nos outros. Conhecemos os nossos defeitos e as nossas qualidades. Começamos a aprender a viver com algumas limitações: dormimos menos horas, vemos pior, temos menos tolerância com tudo aquilo que não consideramos importante. Entusiasmamo-nos com menos ingenuidade e apaixonamo-nos com maior profundidade. Seja de forma consciente ou inconsciente, escolhemos mais. Mas nem sempre escolhemos melhor. E entre nós há ainda quem sinta o mundo a encolher à sua volta e acredite que as escolhas serão sempre mais e mais escassas. Muitos trocaram sonhos nunca realizados por uma realidade conformada. Mas nem todos deixaram de sonhar.
Depois dos 40, quando tudo parece simplificar-se , afinal o amor é ainda mais complicado. Já carregamos  metade de uma vida com casamentos e separações, traumas e desilusões, filhos ainda por criar e pais que já precisam dos nossos cuidados. Surgem as primeiras mazelas e aparecem as primeiras rugas. E, no entanto, se encontramos alguém que nos atrai, com quem partilhamos interesses, convicções, valores e vontades, e se esse alguém se interessa por nós, em que medida estamos ainda disponíveis para arriscar, para abandonar a nossa zona de conforto e mudar de vida? Até que ponto estamos ainda disponiveis para amar'
Nós somos a última geração Disney e a primeira dos vídeos pornográficos de livre acesso. Ainda preferimos telefonar em vez de enviar WhatsApps. Não acabamos relações por SMS. Muitos entre nós são filhos de casais que nunca se separaram. Quisemos tudo: carreiras brilhantes, casamentos perfeitos, filhos inteligentes, viagens, desporto e aventuras. Entrámos sem receio nem pudor na segunda e terceira volta das uniões de facto, juntando trapos e filhos como quem muda de camisa. Habituámo-nos a pensar que podíamos ter tudo e, por isso, não precisávamos de fazer escolhas. Mas a vida acaba sempre por nos trocar as voltas: apaixonamo-nos por pessoas pouco disponíveis ou aborrecemo-nos quando a pessoa que sempre fez tudo por nós continua ao nosso lado. A ambivalência profunda entre aquilo que ainda consideramos ser correcto e aquilo que nos apetece é o nosso ponto fraco. Quisemos ser adulto cedo e, como é normal nas crianças precoces, demorámos e vamos ainda demorar muito tempo a amadurecer. E, no entanto, alguns de nós ainda sonham com a aterna busca de um amor ideal, acreditando no poder da dedicação total e da fidelidade incondicional. Alguns de nós ainda sonham ser aquele casal perfeito para quem os outros olham com admiração e orgulho. Como se a perfeição pudesse existir."

"Os milagres acontecem devagar" - Margarida Rebelo Pinto